O Sindicato dos Municipários de Pelotas, por ser um sindicato exposto diariamente na mídia, por várias vezes é alvo de críticas reacionárias.

Quantas pessoas bebem diariamente de fontes suspeitas para ser a referência do pensamento político, cultural.  O Lasier Martins, comentarista da RBS, é uma destas fontes. Inclusive já foi alvo de críticas do SIMP em outros textos, por defender o governo estadual em sua forma violenta de agir contra os movimentos sociais e sindicais estado afora. Cacetete sangrando é dedicação de amor fraterno.

Aqui em Pelotas tem um destes “Lasier” no jornal do meio-dia da rede Pampa. Na sexta feira (03) o comentarista político Ricardo Pierobom considerou absurdo o sindicato ter entrado com um pedido de liminar para garantir a extensão aos trabalhadores da saúde sobre o ponto facultativo, já decretado aos demais municipários, da segunda feira que antecedeu o feriado de 7 de setembro. Uma ressalva aqui: não faz parte da pauta do SIMP buscar que entre os feriados e final de semana seja sempre ponto facultativo. O prefeito Fetter decretou o ponto facultativo (06).           

No dia a dia, quando se manifesta sobre qualquer movimento sindical e social, Pierobom “dita duras” palavras tratando manifestações populares como um bando de desordeiros, partidários (sempre em relação a partidos de esquerda) e vagabundos que não querem trabalhar. Mas vou pegar os próprios adjetivos para fazer uma reflexão:

Desordeiros: da ordem que governos estipulam como controle. O governo estadual manda bater em trabalhadores, criminaliza movimentos sociais e sindicais, institui as escolas de lata, enturmação nas escolas, tenta tirar vantagens conquistadas do Plano de Carreira etc. O governo Fetter corta ponto, desvincula base de vantagens do mínimo nacional, não aplica o Piso Salarial para Trabalhadores em Educação, se utiliza da lei de responsabilidade fiscal como um limitador de gasto com pessoal, burocratiza dia após dia qualquer debate de avanço funcional de forma geral para os trabalhadores. Diante deste pequeno cardápio como ações controladoras, os “desordeiros” se manifestam por uma sociedade inclusiva e mais justa.

Partidários: embora o comentarista sempre se manifeste quando o partidarismo está relacionado a partidos de “esquerda”, todas as pessoas que votam são partidárias. Seja direita, esquerda, ou o tal do “centro”. Por mais que ainda alguns tenham a ilusão de “eu voto na pessoa e não no partido”, sabemos que todos os candidatos estão vinculados a partidos. E mesmo aqueles que votam em branco ou anulam, estão no mínimo de acordo com a situação vigente. Portanto, no geral, somos todos partidários.

Vagabundos que não querem trabalhar: jamais Pierobom vai considerar justa uma mobilização municipária. Para quem vive à margem dos 80% dos servidores municipais que tem padrões salariais abaixo do salário mínimo nacional, tendo muitas vezes que vender o bolso ao Banrisul para viver a ilusão do dinheiro na mão. Vagabundos, para ele, é uma palavra que cai bem;

É daqueles que defende que as péssimas condições apresentadas pela saúde em Pelotas é culpa de “servidores vagabundos” e não da incompetência política estabelecida na cidade há anos. Ele é um dos que alimenta esta cultura, respaldando governos que colocam na linha de frente, para responder pelos desserviços apresentados, os trabalhadores em sua diária labuta.

Além de fazer críticas pessoais, no comentário de sexta passada (03), tratou o SIMP como um sindicato que está contra a população pelotense. Que está contra a saúde em Pelotas. Porém, enquanto pessoas que pensam como ele, tratar de forma agressiva o SIMP, mais teremos a certeza de que estamos fazendo uma boa gestão. O que incomoda a ele, com certeza estressa o governo. Suspeito seria ele traçar elogios a uma entidade que discute o movimento sindical no contexto contemporâneo da busca de uma sociedade mais justa.

Mas este texto não é uma resposta que quero dar a quem não entende o movimento Sindical. Quero que seja uma reflexão para os “amigosdepelotas” que sonham uma Pelotas de forma social, com um serviço público de qualidade.

Em relação ao “ponto facultativo” desta segunda (06) a desarmonia na composição do governo é tanta que a Secretaria de Administração já havia concedido a quantidade de vales-transporte para o mês, não estando incluído neste dia, e o Secretario de Saúde, Francisco Isaías, mandou trabalhar.

Sobre as UBS (Unidades Básicas de Saúde), em Pelotas na sua “essencialidade” existem dois elementos que não podem ser confundidos.

Primeiro:

Dentro das atribuições de uma unidade básica de saúde o que lhe cabe? Não podemos considerá-las como um “serviço essencial” na igualdade do que é atribuído a um pronto socorro, também o Hospital Escola, que tem seus serviços mantidos de forma ininterrupta e que são os serviços próprios de atendimentos de urgência e emergência. Se as UBS fossem, abririam aos finais de semana, feriados e outras datas que fecham. Dia 7 de setembro, por exemplo, segundo o próprio Secretário Isaías, somente duas UBS abriram.

De acordo com o Plano Municipal de Saúde, são unidades que prestam um serviço de atenção básica à saúde “(…) que realizam, além das ações de promoção da saúde e prevenção, consultas médicas e de enfermagem (clínica geral, pediatria, ginecologia/obstetrícia), atendimento odontológico e atendimentos básicos (vacinas, curativos, etc)”.

Segundo:

Já fundamentado sobre suas atribuições, outro ponto a ser debatido é a precarização dos serviços apresentados pelas Unidades Básicas, que hoje é imensa. A essencialidade que entendemos em relação aos serviços apresentados pelas UBS em Pelotas é precária por falta de gestão pública coerente com as próprias atribuições das unidades e as carências da população na qual necessita dos serviços.

Diariamente há falta de destinação de recursos para aquisição de medicamentos, equipamentos, material de trabalho e concursados para ocupar vagas, muitas vezes por motivo de vacância do cargo. Recentemente foram contratados vários médicos com salários superiores aos já concursados. Um incentivo para tentar suprir algo que um Plano de Carreira, não só para a saúde como para todos os municipários, resolveria. Há muita rotatividade de trabalhadores no serviço público municipal por não haver nada que, literalmente, os sustente na vaga. Na região colonial, várias UBS não tem atendimento médico por falta de médicos. Na cidade, além do já citado acima, ainda algumas unidades básicas enfrentam problemas estruturais, goteiras, mofos, e não apresentam o mínimo de segurança, tanto para os trabalhadores quanto para os usuários. Um ambiente insalubre dentro de um espaço para atender saúde da população?! Algo muito comum.

E para finalizar, fica um alerta: Cuidado com pensamentos sem fundamentações claras ou baseadas em reacionários que estão todo dia promulgando seus venenos em diversos canais de comunicação, presentes em cada passo que damos. Uma coisa é o que desejamos da saúde para Pelotas a partir do senso comum, seja em bares, cafés, ou discussões de corredor, outra é um debate calcado em possibilidades reais, sem devaneios, partindo de um processo de construção coletiva, sustentadas em referenciais de bases sólidas.

Ah, esqueci de dizer que há famíliares do Pierobom que estão atrelados ao governo municipal. Mas…esse é um debate posterior.

Esperando ter esclarecido a todos a diferença que o Sindicato dos Municipários de Pelotas percebe entre os ”serviços essenciais” e o que é “essencial” nas Unidades Básicas de Saúde, boa leitura.

Duglas Lima Bessa

PRESIDENTE DO SIMP