Nestes 200 anos da comemoração do aniversário da cidade de Pelotas nós, trabalhadores desta cidade, e em grande parte os merecedores do mérito desta passagem histórica, gostaríamos que os motivos para comemorar fossem tão grandes quanto é o nosso sentimento de amor a esta cidade. Sentimento esse que se absorve quando começamos a ver as mazelas em que a cidade se encontra. No entanto, o poder público anuncia uma grande comemoração que não condiz com a realidade da população pelotense.

Enquanto o prefeito Fetter Júnior anuncia a cidade do alto, mostrando e enaltecendo os casarões, os trabalhadores se encontram lá embaixo, com cartazes e questionamentos que nos levam a pensar para quem está sendo feita a comemoração dos 200 anos. Queremos saber! Queremos participar! Mas como iremos comemorar? Gostaríamos de também aparecer no alto com nossa satisfação de fazer parte da cidade em que todos podem comer o doce. A doce cidade de Pelotas! A cidade das charqueadas, feita pelos escravos, construtores dos casarões, que hoje continuam servindo de cômodos para a elite (detentora do poder público) e que tão pouco tem mostrado em suas ações contemplar aqueles que continuam fazendo a cidade funcionar.

Temos visto historicamente uma cidade que há décadas sofre com a política do coronelismo. Os gastos públicos vêm disfarçados em uma revista que propagandeia uma cidade fantasiosa e doce e é distribuída para a população mostrando que educação, saúde e cultura são pontos de investimento do governo atual. Paremos para olhar bem esta cidade. Perguntemos como ela se encontra para qualquer cidadão que depende do poder público e logo teremos como resposta uma realidade triste e lamentável. Postos de saúde sucateados, pronto socorro lotado, falta de profissionais em diversas áreas da saúde, greves contínuas em quase todos os setores públicos que traduzem o descontentamento dos servidores com relação aos investimentos e ao destino do dinheiro público.

Na educação, as escolas sofrem com muros caindo; computadores que não funcionam, tecnologias de informação e comunicação que estão aquém dos objetivos pedagógicos, ambiente escolar que sequer possui internet, enquanto grande parte dos discentes já possui acesso a estas tecnologias; superlotação, principalmente nas escolas de educação infantil; professores que lutam por um piso já aprovado há quatro anos nacionalmente, cuja prefeitura teima em querer aprovar via plano de carreira, e assim destruir com a possibilidade tão sonhada de um real aumento que consiga se traduzir em melhorias na sua condição de vida e de trabalho. E a maioria dos servidores com padrões salariais iniciais abaixo do salário mínimo? E a falta de ganho real durante muitos anos?O que comemorar nestes 200 anos? Não conseguimos visualizar o que a propaganda da cidade teima em publicar! Onde está aquela boa via pública? Acaso estariam nas sinaleiras que não funcionam? No caos que se visualiza permanecer nos retornos da Avenida Fernando Osório? Nas ruas esburacadas dos bairros de periferia? Nos buracos das estradas de chão da zona rural? Onde está o teatro sete de abril? Onde está o carnaval como festa que atende a toda comunidade pelotense? Acaso estariam todos os nossos investimentos em salários de cargos de confiança? Acaso estariam nas viagens para Europa? Acaso estariam nos panfletos lustrosos que retratam uma cidade fantasia? Acaso estariam nos filmes que financiam a Globo? Acaso estariam nos incentivos fiscais para grandes empresários? Teríamos muitas outras perguntas a fazer e continuaríamos buscando as respostas…

Portanto, nos sentimos a margem da comemoração dos 200 anos! Não é um feriado que irá nos proporcionar o sentimento de pertencimento a esta história. Queremos participar desta comemoração sim. Queremos adorar a nossa cidade. Mas precisamos que o poder público no enxergue como prioridade. Somos trabalhadores. Somos cidadãos. Somos pelotenses. Somos o alicerce do que hoje se faz Pelotas. Queremos, portanto, perguntar novamente: 200 anos de quê?

SIMP – SINDICATO DOS MUNICIPÁRIOS DE PELOTAS