A pandemia de coronavírus tem explicitado e agudizado a crise que a educação pública e não-pública têm enfrentado historicamente. Carga excessiva e baixa a condições de trabalho, precarização salarial e de carreira, quantidade de exigências enormes que devem ser atendidas concomitantemente transformam as vidas das pessoas que trabalham com educação em uma rotina de insegurança, desgaste e desesperança, levando muitos homens e mulheres ao adoecimento mental e físico, em casos extremos resultando em quadros de depressão e uso intensivo de medicamentos para suportar a condição laboral.

As soluções que poder público e empresas têm pensado para contornar a crise acentuada pelo coronavírus não têm dado conta dos problemas pré-existentes na educação, e agravam algo que já vinha mostrando diversos problemas. Com as iniciativas de ensino remoto, trabalhadores e trabalhadoras da educação têm se esgotado em escala ampliada, desempenhando um trabalho que se torna muito mais cansativo que o ensino presencial devido à necessidade de atenção redobrada na realização de tarefas para as quais muitos não estão devidamente preparados.

A confusão que se instaura entre o espaço público de desempenho de atividades e o espaço privado da vida cotidiana criam uma estrutura em que profissionais estão sempre trabalhando, não havendo a delimitação de uma carga horária viável para a realização da vida para além do trabalho. Esta conjuntura afeta diretamente o âmbito emocional de trabalhadores e trabalhadoras, e ganha contornos perversos quando se quando se trata das condições econômicas às quais educadores e educadores estão submetidos, com uma realidade de precarização salarial e de carreira.

A falta de plataformas que abriguem iniciativas qualificadas de ensino remoto obriga trabalhadores e trabalhadoras da educação a utilizarem seus próprios recursos para desempenharem as tarefas que lhes são atribuídas. Esta política para a educação que governos e empresas estão adotando além de criar a dependência de investimento de recursos dos próprios profissionais em equipamentos e serviços que lhes permitam acesso à rede de computadores, cria também constrangimento e, por consequência, adoecimento, para aqueles trabalhadores e trabalhadoras que não conseguem dedicar parte de seu orçamento para atender a uma exigência pela qual estes mesmos governos e empresas deveriam ser responsáveis.

Cabe ainda destacar a precária relação que se estabelece entre trabalhadoras e trabalhadores da educação e entre estes e os estudantes para qualificar uma relação de ensino/aprendizagem qualificada e universal. Com a enxurrada de atividades a que estão submetidos, trabalhadores, trabalhadoras e estudantes têm pouco ou quase nenhum tempo para realizar a necessária interlocução, meio pelo qual a educação se constrói e pelo qual a formação humana se dá.

É necessário que governos e empresas compreendam a seriedade da situação que se agrava com a pandemia de coronavírus e tratem a educação de forma séria e não simplesmente a efetivação da política do banco mundial de mercantilização da educação. A sobrecarga de trabalho e o adoecimento docente são sintomas de uma educação adoecida e adoecedora, que precisa, pelo bem do futuro coletivo, ser transformada, qualificada e universalizada.

Assinam este manifesto:
SIMP
ADUCPel
ADUFPel
ASUFPel
CPERS
SINASEFE
SINPRO-RS
SINTAE-RS